Caos no Nepal: governo censura redes sociais para combater 'fake news' e população reage; mais de 20 pessoas morreram
LIDERADO PELA CENTRO-ESQUERDA

O Nepal vive dias de caos nesta semana, com protestos violentos que resultaram na morte de ao menos 22 pessoas e na renúncia do primeiro-ministro KP Sharma Oli. O primeiro-ministro havia iniciado seu quarto mandato no ano passado à frente de uma frágil coalizão entre seu partido comunista e o Congresso Nepalês (centro-esquerda).
De acordo com familiares e relatos do jornal Khabar Hub, Rabi Laxmi Chitrakar, esposa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal, morreu nesta terça-feira (9) após sua residência ser incendiada por manifestantes em Katmandu.
Chitrakar estava em sua casa no bairro de Dallu quando o imóvel foi cercado pelas chamas. Socorristas a retiraram do local e a levaram a um hospital, mas ela não resistiu aos ferimentos. Vídeos que circularam nas redes sociais, apesar do bloqueio imposto pelo governo, mostravam a mulher gravemente queimada sendo atendida no chão, tornando-se um símbolo da fúria popular.
A violência atingiu também a residência do primeiro-ministro Oli e o ministro das Finanças, Bishnu Prasad Paudel, que foi perseguido e agredido nas ruas. Além disso, manifestantes invadiram e incendiaram o parlamento nacional, aprofundando a crise política.
Motivo dos protestos
A mobilização começou após o governo Oli bloquear o acesso a redes sociais e plataformas digitais como Facebook, YouTube, X (antigo Twitter) e LinkedIn. O Executivo justificou a medida alegando descumprimento de prazos para registro das empresas junto às autoridades locais, conforme nova regulamentação.
Para os cidadãos e organizadores dos atos, a decisão foi vista como censura à liberdade de expressão e catalisou um descontentamento mais amplo. As manifestações, que reuniram milhares de pessoas nas ruas de Katmandu, denunciavam a corrupção endêmica e a instabilidade política crônica, exigindo mudanças na liderança do país.
Renúncia e revogação do bloqueio digital
Diante da escalada da violência e da invasão do parlamento, o primeiro-ministro Oli apresentou sua renúncia. Imediatamente, o governo revogou o bloqueio que atingia 26 sites e plataformas digitais. No entanto, a suspensão da censura chegou tarde diante da fúria popular já instalada.
O Nepal agora enfrenta um período de incerteza. A morte de Rabi Laxmi Chitrakar e outros civis simboliza a gravidade da crise e evidencia as fissuras políticas e sociais do país. A população aguarda a formação de um novo governo enquanto lida com as consequências de dois dias de violência extrema.